quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Rock Alive entrevista: Ariel Coelho

Fala galera, acompanha o Rock Alive Brasil!

Hoje, trazemos para vocês, a entrevista que fizemos com o músico e professor de canto, Ariel Coelho.

Confiram abaixo!

RA – Quem é o Ariel Coelho?

AC – Vixe, pergunta difícil, mas vamos lá! O Ariel Coelho é cantor profissional (há 23 anos) apaixonado pela riqueza de sonoridades/possibilidades da voz humana, "multinstrumentista", professor de canto e técnica vocal há 18 anos.

Membro da Associação Brasileira de Canto (ABC), da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), da Federação Iberoamericana de Pesquisas da Voz Cantada e Falada (FIVCH), criador e coordenador do Curso Livre de Técnica Vocal Aplicada ao Rock (único no mundo exclusivamente criado e desenvolvido para tal finalidade, com sede em Florianópolis/SC e células em São Paulo/SP, Niterói/RJ, Curitiba/PR e Blumenau/SC), do Instituto Rock Voice (Centro de Excelência em Formação Integral de Rock Singers, sede em Florianópolis/SC) e lead vocal das bandas CODA Classic Rock (Fpolis/SC) e Brazilian Pink Floyd (Fpolis/SC).

De resto, é um assumidamente obcecado pelo conhecimento e pela ciência, tendo se graduado e pós-graduado em Psicologia, em Relações Públicas, especialista em Ciências Criminais, ex-professor de filosofia e sociologia, tendo feito aprofundamento de estudos em Filosofia da Ciência com ênfase em Antropologia Cultural, Epistemologia e Ontologia (nível de especialização).

RA – O que o levou a dar aulas de canto aplicadas para o Rock?

AC – Bom, eu leciono técnica vocal para o canto popular desde 1996. E deste então me deparei com uma enorme lacuna deixada pelas pedagogias vocais tradicionais relativamente à compreensão e ensino das inúmeras técnicas vocais presentes no canto rocker, desde as suas origens. Isso porque a esmagadora maioria dos professores brasileiros de canto e/ou técnica vocal foca suas atividades pedagógicas exclusivamente no ensino das técnicas utilizadas e desenvolvidas para o canto erudito e suas derivações; e os que se aventuram no ensino das técnicas vocais aplicadas ao canto popular, ou por desconhecimento, ou por falta de preparo mesmo, subestimam as técnicas vocais aplicadas ao rock e seus subgêneros. Não é de surpreender, pois, que encontremos em todo o país, não mais do que meia dúzia de profissionais razoavelmente instruídos em pedagogia vocal rocker.

E antes que alguém alarde conhecer vários e vários professores que ensinam técnicas para se cantar rock no Brasil, cabe chamar a atenção para a crucial diferença entre o "professor que canta/ensina" e o "professor que ensina/canta/ensina". Ou seja, uma coisa é ter como professor (a) um (a) bom (a) cantor (a) que lá pelas tantas resolveu passar adiante "as suas técnicas", encarnando aí a figura de professor; outra bem diferente é termos como professor (a) um profissional da pedagogia vocal efetivamente, que além de contínua lapidação didático-pedagógica (formação acadêmica continuada), busca na prática do seu canto e docência o aprimoramento constante de sua metodologia de ensino (campo experimental). No primeiro caso, não se ultrapassa o campo da empiria, onde o grau de adequação das técnicas ensinadas está estritamente relacionado ao perfil vocal do aluno e, não obstante, o grau de eficácia didático-pedagógica do cantor/professor está diretamente relacionado ao seu nível de desenvolvimento proprioceptivo. Já no segundo caso, adentramos no campo pedagógico vocal enquanto um saber científico, com todos os seus nuances e matizes teórico-metodológicos.

E cabe ressaltar também que a situação é ainda mais agravada pelo fato de que o acesso no Brasil ao processo de ensino-aprendizagem vocal rocker é bastante restrito, seja por falta de recursos financeiros para se adquirir material ou para estudar noutras cidades ou mesmo estados da federação, seja pela falta de profissionais preparados para o ensino de tais técnicas. E foi como resposta a esta enorme lacuna da/na pedagogia vocal brasileira que desde 1996 venho direcionando gradativamente todos os seus esforços didático-pedagógicos para uma verdadeira e sólida sistematização teórico-metodológica em Técnica Vocal Aplicada ao Rock.


RA – Hoje, o surgimento de novas bandas de rock e metal vem crescendo muito no Brasil, na sua opinião os (as) vocalistas dessas bandas estão preparadas musicalmente para isso?

AC – Primeiro é preciso registrar que independentemente do nível de preparo técnico-musical dessas bandas, esse surgimento exponencial é algo realmente muito positivo para o fomento ao cenário rock/metal do nosso país. Mas com relação aos aspectos técnico-musicais dessas novas bandas, infelizmente se percebe que uma parte significativa carece de investimentos mais robustos no seu processo de formação e aprimoramento. E isso se estende às questões de ordem estratégico-empresariais, o que as deixa sempre de mãos atadas com os atravessadores de plantão de toda natureza. Pois bem, listo aqui alguns pontos que, a meu ver, são fundamentais aos vocalistas dessas bandas, bem como aos demais candidatos à rock singers:

(1) Jamais confundir estilo de vida rocker com indisciplina;
(2) Combater diária e assiduamente a ansiedade, não permitindo que a mesma ofusque o processo de ensino-aprendizado vocal, com todo o seu esquema passo-a-passo; e acabe lhes impelindo ao sempre permissivo jogo do passo-maior-que-a-perna;
(3) Estudar canto e/ou técnica vocal com professores de canto popular devidamente habilitados para o ensino seguro das técnicas vocais próprias do canto rock;
(4) Ser organizado, focado e disciplinado nos treinos diários de canto e/ou técnica vocal;
(5) Investir constantemente no seu alargamento estético-vocal (crossover estético-vocal);

(6) Investir constantemente no seu aprimoramento musical (instrumentos, história da música, teoria musical, percepção musical, composição, etc.);
(7) Investir constantemente no seu aprimoramento antropológico-musical-rocker (história do rock com todas as suas vertentes, biografias, etc.);
(8) Investir constantemente no seu aprimoramento artístico (teatro, dança, performance, etc.); 
(9) Investir constantemente no seu aprimoramento tecnológico-musical (microfones de qualidade, sistemas de monitoração com ou sem fio adequados, pedaleiras de efeito, etc.); e (10) Cuidar diária e assiduamente das suas saúdes física e psicológica.

RA – Muito se ouve que os melhores vocalistas de bandas são da região Sul do Brasil, comente sobre isso.

AC – É fato que o sul do país concentra um bom número de vocalistas bastante competentes do ponto de vista técnico-vocal. Mas também é fato que temos vocalistas tecnicamente excepcionais em todas as regiões do país. E, no fundo, o que tenho percebido é que instalara-se noutrora entre os vocalistas de rock brasileiros uma espécie de síndrome do rock star, desdobrando numa agressiva corrida do ouro, onde um precisa por princípio eliminar o outro para bem poder reservar/preservar o seu lugar ao sol. E isso acabou gerando um bairrismo vocal, onde a disputa de egos transcende às questões propriamente musicais e técnico-vocais. Contudo, o advento da internet e a consequente relativização cultural provocaram algumas mudanças importantes no comportamento desses mesmos vocalistas; e agora se percebe um desejo coletivo de juntar forças em prol de algo maior: o fomento da própria cultura rocker no país.

E é para exatamente atender esta demanda que estamos organizando o 1° Encontro Brasileiro de Profissionais da Voz Rock para março desse ano (dias 15 e 16), em São Paulo/SP, numa parceria com o Conservatório Souza Lima. Serão dois dias inteiros de debates, trocas de ideias, workshops, masterclasses, painéis, mesas redondas, videoconferências, shows, com aproximadamente 20 profissionais da voz rock, dentre eles professores de canto, de técnica vocal, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e, claro, muitos rock singers. Mais informações nas redes sociais.

RA – Aqui em São Paulo, há alguma filial do Instituto Rock Voice?

AC – O Instituto Rock Voice (IRV) nasceu do Rock Voice – Grupo de Estudos sobre Técnica Vocal Aplicada ao Rock, por sua vez criado em dezembro de 2009, com a finalidade de produzir conhecimentos relacionados à técnica vocal aplicada ao rock, bem como sistematizar os já existentes. Seus objetivos são (1) a estruturação de um banco de dados com todo tipo de material disponível sobre técnica vocal aplicada ao rock, em âmbito mundial;

(2) a produção de novos conhecimentos acerca da técnica vocal aplicada ao rock, através de projetos de pesquisa acadêmica; (3) a sistematização dos conhecimentos disponíveis acerca da técnica vocal aplicada ao rock, no sentido de construir uma pedagogia vocal rocker cientificamente consistente; (4) a unificação dos esforços dos estudiosos da técnica vocal aplicada ao rock;

(5) a formação/qualificação dos professores de técnica vocal aplicada ao rock; (6) a qualificação profissional dos cantores (as) de rock e seus subgêneros; e (7) a integração dos cantores (as) de rock e seus subgêneros.

De resto, o IRV, embora sediado em Florianópolis/SC, conta com pesquisadores espalhados por todo o território brasileiro e com alguns colaboradores (nacionais e internacionais). E já estamos sim estudando minuciosamente a implantação de filiais do IRV nas principais cidades brasileiras, dentre elas São Paulo/SP. Mas por ora, apenas eu próprio tenho desenvolvido mensalmente algumas atividades docentes na capital paulista (mais informações no manager@arielcoelho.com.br).

RA – Qual a diferença do canto erudito para o Rock?

AC – Para entendermos bem essa questão, é preciso antes esclarecer a diferença e as relações existentes entre a estética vocal e a técnica vocal. Pois bem, os modernos estudos de Antropologia Vocal (e eu assumo aqui publicamente a paternidade da criança... hehe) nos mostraram que estes dois fenômenos não são a mesma coisa (e tratá-los assim constitui/constituiu um gravíssimo erro histórico em termos de ciência e pedagogia vocal) e as suas relações, ao fundo, se estabelecem no seio de um fenômeno maior chamado crossover técnico-vocal, uma prática absolutamente comum e mesmo essencial no processo de desenvolvimento das mais diversas estéticas vocais e as suas técnicas vocais subjacentes.

O fato é que ao lançarmos um olhar antropológico sobre a história do uso da voz humana para finalidades artísticas, verificamos que primeiro surgem as estéticas vocais, com todos os seus nuances e matizes (por exemplo, o jeito de cantar das lavadeiras enquanto executavam o seu trabalho ao ar livre; dos escravos que expressavam toda a sua dor e indignação quando se juntavam na senzala; dos cantores que animavam as festividades ou mesmo reuniões nos antigos palácios imperiais e/ou aristocráticos pelo mundo a fora; dos índios, etc.).

E somente depois é que surgem as técnicas vocais, como tentativas de se manter, aperfeiçoar e mesmo perpetuar as estéticas vocais subjacentes.

Não obstante, se verifica ainda que, na medida em os povos vão se misturando (migração, socialização, globalização, etc.), ocorre uma verdadeira miscigenação estético-vocal, desdobrando num alargamento técnico-vocal dos cantores, de um modo geral; e isso acaba resultando no surgimento de novas estéticas vocais. Trata-se de um movimento antropológico cíclico, cuja estética vocal constitui-se sempre como início-fim e fim-início. Como um bom exemplo desse fenômeno, temos o surgimento/desenvolvimento do teatro musical, onde para a execução das obras, os (as) cantores (as) acabam se utilizando – ainda que às vezes, de modo deveras intuitivo – tanto de técnicas vocais específicas do canto erudito (técnica belcantista, por exemplo), quanto àquelas técnicas vocais cujas sonoridades produzidas, dito grosso modo, enfileiram-se mais à estética do canto popular (belting, mixed voice, drives, para citar algumas).

E acrescentaríamos, pois, que é exatamente pela elasticidade estética do canto popular que a prática do crossover técnico-vocal no âmbito do teatro musical se tornou possível. Por fim, o mesmo ocorre na Técnica Vocal Aplicada ao Rock (e essa é a diferença crucial entre o canto erudito e o canto rocker): dada a elasticidade da estética vocal rocker (enquanto subgênero do canto popular), a prática do crossover técnico-vocal é lugar comum entre/para os rock singers (diferentemente dos cantores eruditos).

RA – Quais são os exercícios mais utilizados durante as aulas?

AC – Então, considerando que a principal característica técnica do canto rocker é exatamente a sua plasticidade vocal, um bom caminho metodológico é investir pesadamente no processo de alargamento estético-vocal (quanto mais experiências estético-vocais tivermos e cada qual com as suas técnicas subjacentes, mais memórias musculares de diferentes possibilidades de arranjos fisiológicos nós teremos), que passa pela construção de um repertório de estudo estrategicamente escolhido para cumprir a função (sendo que esse mesmo repertório vai sendo retroalimentado gradativamente);

Em um trabalho minucioso de higienização técnico-fisiológica (exercícios/laboratórios de sensibilização proprioceptiva); e readequação dos arranjos fisiológicos empregados (esquemas vocais, efeitos vocais, etc.).

Os conhecidos vocalizes aqui ganham nova roupagem e são implementados no conjunto do treinamento de acordo com as suas funções fisiológicas subjacentes (de acordo com os estudos da novíssima Antropofisiologia Vocal; e mais uma vez assumo a criança... hehe).

RA – Quais dicas são dadas quanto ao cuidado com a voz?

AC – Pois bem, sempre que se fala ou pensa em cantores (as) de rock, uma das primeiras coisas que nos vem à mente é a questão da saúde vocal desses profissionais. Afinal, cantar rock sem se “arrebentar” não é uma das tarefas mais fáceis! Não bastasse o desgaste de todo o trato vocal em si, o corpo todo “sofre” com as exigências técnico-estéticas do rock (apoio diafragmático, mecanismos de fonoarticulação, coordenação fonorespiratória, ajustes de filtro, efeitos vocais, performance de palco, interpretação textual, etc.). Então, partindo do pressuposto de que cantar rock é uma atividade extremamente desgastante para todo o organismo, o condicionamento físico generalizado constitui-se numa condição básica para o (a) rock singer.

E com o termo condicionamento físico queremos mesmo dizer que deve o (a) cantor (a) exercitar constantemente todo o seu corpo, de modo a deixá-lo em condições de suportar toda a carga energética exigida no/pelo canto rocker. Para melhor ilustrar essa especificidade do canto rocker, evocaremos aqui o modelo militar de treinamento: o fato é que os militares treinam praticamente o dia inteiro para sempre que for preciso, estarem preparados. E o mesmo ocorre com o (a) cantor (a) de rock: ele (a) precisa estar preparado em tempo integral para a “guerra”, por assim dizer. A preparação física do (a) cantor (a) de rock inclui sessões diárias de alongamentos e de práticas corporais que visem à tonificação da musculatura como um todo. E aqui é importante registrar que segundo a literatura clássica de técnica vocal, além de um programa regular de exercícios físicos aeróbicos e de repouso adequado (o que inclui a questão da qualidade do sono), a natação e o caminhar são as práticas corporais mais indicados para o (a) cantor (a), de modo geral; e que se deve evitar o tênis, o basquete, o vôlei, o levantamento de peso, o boxe e a musculação, pois causam muita tensão muscular na região do pescoço, costas, ombros e tórax. É fato.

Contudo, inúmeras pesquisas mostram de que não importa o tipo de exercício físico que se faça, bastando manter uma prática diária e qualitativamente satisfatória de exercícios de alongamentos/relaxamentos para que as tensões subjacentes se dissipem. Nesse sentido, não é de surpreender que a história do rock esteja repleta de exemplos de expressivos lead vocals que são ou foram praticantes de exercícios contraindicados pela literatura clássica de técnica vocal e que, no entanto, conseguem/conseguiram manter um padrão técnico-vocal satisfatório. Para citar apenas alguns, temos o Bruce Dickinson que pratica esgrima, o Alice Cooper, o Brian Johnson e o Tim Ripper que praticam golfe, o Geddy Lee que pratica tênis e o Eddie Vedder que surfa e joga basketball.

Então, como bem podemos ver ser cantor (a) de rock exige uma série de cuidados com todo o organismo (alimentação, hidratação, higiene, respiração, postura, exercícios físicos de condicionamento e relaxamento, exercícios técnico-vocais específicos, acompanhamento médico especializado, etc.), sendo que ele (a) deve ainda saber lidar com situações de competição sonora (ensaios, shows, ambientes ruidosos, etc.), de alterações climáticas (ar condicionado, climas regionais, etc.), de alterações hormonais (idade, ciclos menstruais, gravidez, menopausa, medicação, etc.), dentre outras. Por fim, a principal ferramenta do (a) rock singer para cuidar da sua voz – mantendo de um modo fisiologicamente adequado a sua eficiência e longevidade – é o pleno domínio da própria técnica vocal rock em si mesma!

E aí galera curtiram?

Então sigam o Ariel Coelho no Facebook, e fiquem atentos, pois logo mais postaremos em nossa fanpage sobre o workshop a ser realizado em São Paulo.

Confiram um dos videos do professor/músico fazendo workshow, com a música Painkiller - Judas Priest.


See You Soon!!!

3 comentários:

  1. Olá Rock Alive, sou o Thiago, guitarrista da Spasmus. Primeiramente gostaria de agradecer o espaço que nos deram, a entrevista foi muito legal. Segundo, gostaria de mostrar meu trabalho escrevendo sobre rock tenho vários artigos, resenhas de albums clássicos e lançamentos e outros materiais, abaixo um link com uma amostra:

    http://rateyourmusic.com/list/tboschese/10_melhores_albums_de_2013___rock___metal___hard_rock/

    Trabalho com TI e internet e sou colecionador e aficcionado por música em todas suas vertentes, se estiverem precisando de um colaborador ou algumas dicas para o site de vocês, estou a disposição.

    Abraço!

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  2. Olá Thiago, nós é que agradecemos por terem concedido a entrevista, conte conosco sempre que precisar.

    Peço que nos envie um e-mail referente ao assunto subsequente, neste endereço: rockalivebrasil@live.com

    See You Soon!!

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  3. Ariel , além de uma grande pessoa é um puta parceiro que nós aqui do Sul do Brasil. E agora todos os cantos do País tem a oportunidade de trocar informações e aprendizado!

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